Conversei com muitos sertanejos na minha recente viagem ao sertão do nordeste. Perguntei a eles quais obras e autores melhor traduziram a alma do agreste.
Luiz Gonzaga apareceu em todas as respostas. Tem gente que até hoje se emociona ao ouvi-lo.
O que fiz, após voltar ao Rio, tendo ouvido os testemunhos dos que atravessaram os duros anos de fome e seca, e que ainda enfrentam inúmeros obstáculos para vencer a pobreza que os assola?
Parei para ouvir a canção mais famosa do seu intérprete favorito. Confesso que jamais o havia feito. Senti vergonha por ser partícipe dessa parte da sociedade brasileira que historicamente ignorou o drama do sertanejo.
“Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
…
Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
…
Por farta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
…
Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Entonce eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
…
Entoce eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
…
Hoje longe, muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão
…
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão
…
Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração
…
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração”.
Eis a síntese do sofrimento de um povo, que movido pela ânsia da sobrevivência foi parar no sul de um estranho país que falava a sua mesma língua.
A canção de Luiz Gonzaga demanda uma defesa dos procedimentos de Deus (teodiceia). Quem clama aos céus buscando compreender “tamanha judiação” deve obter como resposta da igreja a pregação do evangelho redentor do Cristo nu, sedento, torturado, abandonado, morto; seguida do amor que faz a justiça do reino de Cristo chover sobre a terra da sequidão.
Vejo o “varão sertanejo” clamando, “passa ao sertão”.