Estou no aeroporto de João Pessoa, na Paraíba. Acabei de sair do agreste paraibano. Não sei por onde começar a minha descrição da quantidade de desgraça que testemunhei nesses dias de viagem pela Amazônia, sertão e favela.
Retorno ao Rio a fim de me dedicar à edição do documentário. Falta ainda fazer as comunidades pobres da minha cidade.
Há um terceiro Brasil que precisa nascer. Houve um dos anos 90 para trás, no qual viviam pessoas cujas condições de vida se assemelham ao que vi ano passado na África: miseráveis que vivem à base de uma agricultura de subsistência. Se der uma seca ou inundação, morrem de fome. Não têm acesso a nenhum programa de seguridade social.
O Brasil que conheci nessa viagem não passa fome, tem acesso à energia elétrica, pode beber a água da chuva armazenada na sua cisterna, mantém seus filhos em escola pública. Tudo de modo muito precário. Ainda há, por exemplo, meninos e meninas que, vez ou outra, acordam sem ter o que comer.
Um Brasil, contudo, que se equilibra sobre os programas sociais do Governo Federal, que se forem retirados remeterão para a antiga miséria milhões de famílias. Um Brasil de desempregados, cuja economia de número incontável de municípios está morta. Não há indústria e comércio. O Estado mantém essas cidades e povoados.
Um Brasil que tem sua vida biológica fragilmente preservada, e só. Testemunhei muita ociosidade. O alcoolismo se espalhou pela Amazônia, sertão e favelas, o que potencializa a violência contra a mulher.
O Brasil que pode vir, caso você e eu por ele lutemos, movidos pela solidariedade a milhões de seres humanos sem a mínima perspectiva de ascensão social, é o Brasil da educação pública integral de qualidade, do acesso ao mercado de trabalho, das terras irrigadas, da saúde pública decente.
Não vejo como esse país romper o ciclo da pobreza sem uma sólida economia de mercado. Entretanto, não vejo como a indústria e comércio se espalharem pelos nossos bolsões de miséria sem que o Estado faça o seu dever de casa: prover infraestrutura básica (energia, água, estradas etc.) e capital humano (saúde e educação).
Se você tivesse feito comigo a viagem que acabei de fazer, perderia por completo o respeito por político, jornalista, pastor, que não revelam compromisso com a erradicação da pobreza.